Redes Sociais, Fake News e os Desafios da Educação Contemporânea.

Como a educação pode lidar com fenômenos contemporâneos como as fakenews e as redes sociais? Este texto faz um convite a esta reflexão.

Redes Sociais, Fake News e os Desafios da Educação Contemporânea.

Muitos de vocês que estão lendo este artigo já devem ter acessado a internet em busca de informações e letramento sobre algum tema de interesse. Isso se tornou um ato corriqueiro nas últimas décadas e traz a informação desejada em poucos minutos. Mas será que podemos e devemos confiar em todos os conteúdos das redes? Como saber se estamos sendo enganados com informações pseudocientíficas ou pelas famosas ¨fake news” ou, em português, notícias falsas?

O crescimento das redes sociais, no início deste século, possibilitou a transposição de inúmeras formas de interações interpessoais, típicas da vida offline, para vida online. Fazendo com que indivíduos reelaborem constantemente suas formas de se relacionar com o tempo e o espaço, criando maneiras de socialização em rede. A interação permitida pelo uso dos dispositivos e das potencialidades das tecnologias de informação e de comunicação contribuem para repensar as dinâmicas sociais, de modo que, segundo a professora da PUC-SP Lucia Santaella “[...] pensar a tecnologia, nesta era do pós-digital, significa implicá-la nas táticas e estratégias do poder”.

As redes sociais são um ambiente de entretenimento e um campo vasto de opiniões que são expressas pelos seus usuários de forma rápida e contundente, além de também serem utilizadas como um canal de propagação de fake news e, como ressonância destas, de disseminação do ódio provenientes de perfis reais ou de robôs.

As fake news consistem em mentiras disseminadas no formato de notícias jornalísticas, veiculadas em sites ou blogs que se alinham com o design de sites dos grandes jornais mundiais. Elas sempre existiram, mas a expressão se generalizou em 2016, durante a eleição presidencial estadunidense, bem como pudemos observar o seu crescimento na eleição presidencial no Brasil em 2018. Segundo Santaella, as fake news “[…] visam influenciar as crenças das pessoas, manipulá-las politicamente ou causar confusões em prol de interesses escusos.”

No Brasil, as fake news têm tomado grandes proporções. Com a facilidade de veiculação estruturada pelas redes sociais, a população brasileira é, diariamente, bombardeada com inúmeras informações. Mas, sem o filtro necessário para consumir tais informes, os sujeitos tornam-se reféns, pois nem todos possuem senso crítico e os conhecimentos necessários para apurar e verificar as notícias que chegam até eles.

A verdade é que padecemos de conhecimento científico de qualidade na nossa vida acadêmica, desde a educação infantil até o ensino superior. Não nos ensinam, muito menos nos encorajam a compreender cientificamente os conceitos e teorias que nos são apresentadas ao longo da vida. Deste modo “decoramos” informações que nos parecem aleatórias, pois não compreendemos as suas origens e a sua construção. Este tipo de educação deu origem a uma geração que questiona conhecimentos consolidados, baseando-se em opiniões pessoais, teorias da conspiração de YouTube e achismos de produtores de conteúdos de redes sociais. Infelizmente o cenário que se estabeleceu hoje no Brasil, e em muitos países do mundo, é o de uma sociedade que confunde opinião com conhecimento científico e que acredita firmemente que tudo (ou quase tudo) pode ser explicado, evidenciado e comprovado a partir de suas crenças e desejos pessoais.

As fake news assumem um papel de destaque nessa máquina de desconhecimento, pois além de serem produzidas – muitas vezes, com riqueza de detalhes –, conseguem alcançar um grande número de usuários das redes, que põem em circulação, de forma muito ágil, as notícias, fazendo com que cada vez mais pessoas tenham acesso àquela informação falsa.

Em meio a essa complexidade contemporânea, alguns professores/as ainda acreditam que seu papel é ensinar os conteúdos dos saberes específicos de sua disciplina, sem articular com os saberes e experiências dos alunos/as, apoiados em uma didática instrumental que não se conecta à cultura e ao cotidiano escolar em sua atitude de investigação e pesquisa.

É essencial que a educação compreenda os fenômenos culturais e a maneira pela qual os processos de socialização são influenciados. Estudos indicam que as interações mediadas por computadores atuam nos modos de pensar e agir de todos nós. Portanto, me parece bastante oportuno entendermos que as tecnologias e os softwares sociais na contemporaneidade têm tornado o ensino mais complexo e, com isso, criam desafios didáticos ao trabalho docente.

É preciso urgentemente priorizar e investir na educação, para que tenhamos uma formação continuada que permita um educar para uma cidadania engajada com o processo de conhecimento político e científico. Uma população sem acesso aos conhecimentos e saberes com base na ciência torna-se terreno fértil para propagação de uma classe dominante mal intencionada e que visa a exploração e degradação do capital humano.

 

Referências:

SANTAELLA, Lucia. Temas e dilemas do pós-digital: a voz da política. 1. ed. São Paulo: Paulus, 2016. v. 1.

SANTAELLA, Lucia. A Pós-Verdade é verdadeira ou falsa? Barueri, SP: Estação das Letras e Cores, 2018.